A última vez que me meti numa aventura semelhante foi há um mês, quando fui comprar um helicóptero da Lego de presente de anos para o Salvas. Nesse dia acabei por comprar também uma Hello Kitty para a Maria; ela tinha feito anos umas semanas antes e apareci no seu lanche de mãos a abanar. Eu não podia deixar de lhe levar também alguma coisa. Caso não o tivesse feito provavelmente a criancinha iria ficar traumatizada e a odiar-me para o resto da vida. Como também não quero ser lembrado como aquele tio que não dava presentes de Natal fui-me enfiar num centro comercial no princípio desta noite.
Felizmente hoje, e ao contrário do mês passado, não me apareceu em casa nenhum amigo para me presentear com charros de erva antes da minha romaria ao shopping. Nessa vez, dei por mim na secção de brinquedos do Continente a olhar para prateleiras infindáveis de princesas e bonecas como um burro olha para um palácio, a ler livros do Lucky Lucke e a escolher Legos para mim em vez de para o puto. O processo hoje foi mais simples, mas entretanto lembrei-me também que seria de bom-tom o padrinho ausente comprar qualquer coisa para a afilhada. O afilhado como já é maior de idade está incluído nos presentes dos adultos (mãe, pai, irmão secreto, avó), ou seja, leva com um print emoldurado de um qualquer trabalho meu. Uma vez que pretendo continuar de boas relações com os meus irmãos pus duas condições a mim mesmo em relação ao que dar aos pequenos diabos: não oferecer nada que faça barulho ou suje. Por isso, nada de instrumentos musicais, pincéis ou tintas. Ainda vi um mini serviço de chá muito giro para colorir, óptimo para dar às meninas mas lembrei-me que se eu já cago tudo quando uso aquele tipo de material não queria imaginar aquelas duas bonecas. Felizmente no fim-de-semana passado vi na televisão a Moranguinho com a Mimi por isso mal me deparei com tal personagem numa das prateleiras soube que era aquilo que ia dar ás meninas. Problema número um resolvido.
Os rapazes são dez vezes mais básicos que as raparigas por isso um qualquer Homem-Aranha que deite água pelos pulsos serve. Por isso é o que vão ter: não faz barulho e em vez de sujar até pode ser que limpe. E sempre dá para os dois selvagens ajavardarem um bocado no respectivo domicílio e pôr as cabeças das mãezinhas, literalmente em água. Tive quase para comprar um para mim mas à última da hora achei que já não tinha idade.
Em relação à criança que escreve este texto a única que quero este Natal é ver as caras dos meus sobrinhos a abrirem os presentes, e lembrar-me do bom que é ser como eles ainda o são. Acho que eles, realmente os merecem, não por ser Natal mas pelo que nos dão a nós, seres ligeiramente menos infantis, em todos os momentos que passamos com eles. Seja pela alegria que nos transmitem, pela sua inocente honestidade ou pela espontaneidade com que demonstram o seu amor por nós. É, eles realmente merecem tudo. Não há nada neste mundo que se compare a ver uma criança atravessar um jardim a correr, de braços abertos na nossa direcção, abraçar-nos e segredar-nos ao ouvido: “ Tinha tantas saudades tuas! ”.
Eu, quem sabe, com alguma sorte talvez encontre uma princesa este Natal.