Saturday, July 25, 2009

Tuesday, July 21, 2009

Narcóticos Anónimos

Há sortudos que se perdem nos prazeres do jogo, outros viciam-se numa qualquer religião e alguns não conseguem viver sem se embebedarem com poder. Os mais machos agarram-se ao seu machismo e não conseguem passar sem as suas putas. As almas caridosas ajudam os mais desafortunados, doentes e pobres. Os viciados mais artísticos não conseguem passar uma hora sem agarrar numa caneta e fazer uma linha, com sorte uma página inteira. Outros preferem pegar num lápis e fazer uns riscos. Os que têm mais talento lá conseguem fazer, de vez em quando, um desenho que se perceba. Os mais alucinados perdem-se pelas suas musas. Talvez um dia consigam pintar aquela tela. Há quem se agarre à cocaína, os menos abonados ao seu parente pobre, o crack. Outros apaixonam-se pelo òpio e seus derivados igualmente pesados, heroína e afins. Uns conseguem largar esses monstros para logo em seguida se agarrarem a outros como a metadona, Serenal ou Rohypnol. Outros agarram-se a outras plantas, mais leves mas igualmente ilegais. Muitos não conseguem viver sem as suas drogas, umas duras outras leves mas todas legais: álcool, nicotina, cafeína, Prozac, Xanax, Lexotan e um monte de merdas do mesmo género. Há mulheres que não conseguem ser felizes se não comprarem aquele par de sapatos, aquele vestido ou o novo verniz daquela marca francesa que só vão pôr uma vez e que vai envelhecer ao lado de outros frascos de verniz e baton da mesma marca, porque aquela é que é. Muitos são dependentes do futebol, dos resultados da jornada para conseguirem ganhar algum prazer na sua existência. Há muita gente a correr por prazer, a cantar, a ler ou a sonhar, há ainda aqueles que apenas crêem. Em alguma coisa, eles nem sabem bem o quê. O que interessa é acreditar. Os ladrões precisam de roubar os outros, para só assim, obterem alguma satisfação nas suas malfadadas vidas. Os que têm espingardas são adictos na arte de bem matar as suas presas, sejam elas pessoas, aves de caça, hipopótamos ou elefantes. O que interessa é chegar a casa com um escalpe, é esse o seu escape. Durante o nosso vaguear por esta minúscula partícula que paira no universo agarramo-nos, cada um à nossa maneira, a coisas que inexplicavelmente nos trazem satisfação. Precisamos de preencher a nossa vida com qualquer coisa para que esta faça, senão todo, pelo menos algum sentido. A forma como o atingimos torna-se, a partir de certa altura, totalmente irrelevante, seja a maneira que arranjamos para chegar ao nosso mel/veneno (depende do ponto de vista): legal ou ilegal, imoral ou perverso. Aceitável ou condenável. Precisamos de sensações para nos sentirmos vivos, para nos esquecermos que caminhamos todos, por caminhos diferentes, para o mesmo fim, a morte. Todos necessitamos de doses diárias de alguma coisa, seja isso o consumo de drogas, uma nova sensação, outra ida às compras porque a de ontem não foi suficiente e só hoje é que começam os saldos, mais uma foda porque a de manhã soube a pouco, mais uma dezena do terço porque hoje ainda só rezei duzentas e vinte e três ou só mais um tag na parede imaculada deste prédio acabado de restaurar. Não há inocentes nem abstémios, somos todos junkies e culpados. Andamos sempre à procura de alguma coisa e, por vezes, acabamos por nos agarrar a isso. Durante um largo período de tempo agarrei-me à ideia que tudo girava à minha volta, que era o centro do mundo. Há uns meses deixei de querer isso, ou de querer acreditar nisso. Deixei de ter vontade de lutar por isso ou de ser aquilo que talvez fosse. Isto que talvez seja. Hoje tive uma recaída e dei um passo que tanto pode ser o primeiro em direcção à minha cura, ou o último rumo ao abismo.

Tuesday, July 07, 2009

So many

Words make you think a thought. Music makes you feel a feeling. A song makes you feel a thought.”

E. Y. Harburg